quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

No meio do caminho tinha um homem

16/09/2005


Diante de tantos passos apressados, sem nenhuma proteção sobre a calçada de pedras portuguesas, dormia um homem. Era sujo e magro. Apresentava alguns cabelos brancos e rugas denunciando a velhice do corpo. Talvez estivesse bêbado, mas isso pouco importou para uma senhora que passava pelo local às 7 horas da manhã, se dirigindo para uma padaria no bairro Nazaré, onde reside na capital baiana. Dona Maura, uma senhora de quase 80 anos, vestimentas simples, porém bem arrumada, parou diante daquele ser adormecido no chão, estendendo para ele um olhar triste e piedoso. Não conseguiu ter medo daquela criatura desafortunada. Ao contrário daqueles que só reparavam naquele homem infeliz a tempo de desviar dele como se desviasse de uma pedra ou de um buraco no caminho, Dona Maura esqueceu um pouco de si para pensar um pouco nele. Seus pensamentos, talvez, fossem uma análise sobre a trajetória de vida daquele senhor adormecido no chão, se ele possuía família ou sobre o abandono do Estado. Talvez apenas fizesse uma prece. Ninguém sabe, ninguém perguntou. Mas a partir do momento em que Dona Maura parou diante daquele ser, os transeuntes apressados deixaram de enxergá-lo como uma pedra para enxergá-lo como um homem, um infeliz, mas um homem.

domingo, 15 de novembro de 2009

Relógio

06/11/2002



















Meu coração parou por um instante
A voz de repente se fez muda
Os olhos fizeram-se cegos
Fiz-me gelo, fiz-me máquina
E comecei a me inventar

Coordenei os meus passos
Adiantei o relógio
Comprei novas canetas
Troquei velhos papéis...

Passei a acreditar no tempo
E o tempo passou
Mas os ponteiros estavam quebrados
E, sem querer, prendi-me ao passado
Nas lembranças jamais esquecidas

Quis girar o mundo
E o mundo girou
Mostrando-me onde eu tinha ficado
Querendo resgatar cada momento
Através dos meus sonhos e pensamentos...

Mas, sem perder a esperança, pude enxergar:
O gelo quebrou
A voz quis falar
O coração disparou...

No entanto fez-se estranho
O que era conhecido
E agora tento me encontrar
Onde o amor me deixou perdido.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Siga em frente



Se a dor te assalta o coração
Se te sentes incompreendido
Tenha certeza de que não há perigo
Quando a tua escolha é pelo caminho da redenção
Lembra-te de Jesus,
certo de que ninguém está sozinho
Por mais que o mundo te isole
Segue teu caminho
Junto ao Cristo,
encontrará a paz de que tanto necessita
A paciência é um exercício individual, uma conquista
Demonstra, então, tua confiança em Deus
E siga em frente
Mas não deixe passar uma só oportunidade
Para trabalhar, aprender, perdoar e amar.

13/10/2009

terça-feira, 22 de setembro de 2009

PRIMAVERA

22/09/2009

















É primavera!
Mandem acordar as flores
Abrir as janelas
Chegar novos amores
De repente
A vida tem mais luz
O mundo enche-se de cor
Quiçá também novamente
A alma preenche-se  de amor
Sim!
Chegou a estação mais bela
Brincando com a vida
Pintando-a de aquarela
Sinto o perfume das rosas, violetas, jasmim
Orquídeas, margaridas, lírios, girassóis
Quanta inspiração para os poetas
Quanta beleza em nós
Vejam!
Neste instante os olhos têm mais brilho
A alma mais poesia
Um não sei quê também provoca
Nos corações doce alegria
Até minha rima parece
Poesia de criança
Mas é primavera
E renasce em minh’alma
A esperança.


Por Aline D’Eça

domingo, 13 de setembro de 2009

Timidez da Lua

05/08/2006















Tudo é escuro, mas ela chega aos poucos
Como olhos que se abrem sem pressa
Depois de uma longa noite de sonhos...

Sua presença, não necessita anunciar
Basta acreditar que ela estará ali
Após seu solitário caminho
Sim, é dona de si


Entre tantas estrelas que brilham continuamente
Na busca frenética de mais e mais atenção e olhares
Ela prefere ocultar-se por instantes
E chegar devagarzinho
No meio do espetáculo
Sem anúncio
Sem ressalvas
Sem exigências
Colocando-se entre os últimos lugares


Todavia, basta apontar no horizonte para que seja notada
Não por todos os olhares,
Mas pelos sensíveis à sua presença...

E, ainda tímida, ela vai se aproximando do palco
Desviando mais olhares
Até tornar-se, sem nenhum esforço, o centro do espetáculo
Por sua luz e por sua beleza


Os céus, os palcos, as vidas brilham
Em branco ou prateado
Tudo é luz!
Tudo é encanto!


Mas, mesmo sabendo que ela partirá mais tarde,
Com a mesma delicadeza da vinda,
Quem com isso se importará?
Se o mundo ficou tão belo de repente...


A tímida lua...
Ainda que ela tente passar despercebida
Nunca nessa vida alguém a viu
E foi capaz de, na memória, tê-la esquecida.


Por Aline D'Eça


Sim, sou mais uma apaixonada pela lua. Inevitável é o fascínio por este satélite, sou canceriana... Sinto-me como a "Lua Adversa" de Cecília, aquela que "tem fases" ... "que vão e que vêm, no secreto calendário que um astrólogo arbitrário inventou para meu uso".
Após escrever esse texto, que teve como motivo uma bela noite de contemplação ao satélite em sua fase mais completa, lembrei-me de alguém , canceriana como eu, mas que tem a vantagem de ser conhecida por um nome derivado da lua. Corri e enderecei também para a minha amiga. Foi uma dupla homenagem: para a lua do céu e para a Lua da Terra.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Carta ao meu pai

21/03/1997

Posso sentir as batidas em meu peito
ou descansar em solitário leito
em carne, alma, em qualquer lugar
sempre terei a glória de te amar

Se uma lágrima os teus olhos inunda
invade-me uma tristeza muda
te consolar não saberei, amigo
mas certamente chorarei contigo

Não merece tua alma
um só dia neste mundo inumano
mas convivemos com a dádiva
de te ter nos amando

Pai,
que saudades tenho
nas manhãs molhar com um beijo a tua face
inspirar teu cheiro de anjo e sem disfarce
pousar, feliz, em tua paz.


Por Aline D’Eça

Bendita

17/07/1997

Das brigas, um abraço
Das lágrimas, uma flor
Da distância, um laço
Que nos liga: o amor

Alguma coisa aconteceu
E pôs fim ao tempo errado
Deixou-nos tão bem!
Caminhando lado a lado

Há harmonia nas cores, nos atos
E nos novos costumes
Uma luz renasce
E a dor se resume

Hoje tua voz me acalma e conforta
Lutemos pela paz
O que passou não importa

Força derivada de uma graça
Uma relação doce e breve
Tens fé, que tudo passa
À felicidade esse caminho nos leve

Bendita a tua alma caridosa
Benedita, tu és uma rosa entre as rosas.

Por Aline D’Eça

Para a minha mãezinha em homenagem ao nosso reencontro nessa vida!

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Liga


Liga para mim
Tenho medo da sala vazia
E a tua voz facilmente apaga
A distância que existe entre nós

Liga para mim
Para falar o que ninguém escuta
Quando nenhuma palavra te servir de consolo
Que seja só para desabafar...

Liga para mim
Se, em plena madrugada,
Precisar de alguém ao teu lado
Para enfrentar as longas horas de silêncio contigo

Liga para mim
Ainda que neste instante
Seja eu que mais precise de ti

Liga para mim
Mesmo que não seja para dizer
Exatamente o que quero ouvir

Liga para mim
Pois só me basta saber
Que não te esqueces de mim


Por Aline D’Eça
27/12/1999

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Adormecidos

10/01/2001

Já não há alguém que sinta
A alma cobrir-se de flores
Como em festa de fantasia
Noite de amores

O peito cheio de luz
De pulsar mais forte
De ritmo mais intenso
E de amar, mais sereno

A renascer para trilhar
O caminho mais bonito
E a abrir os braços a fim
De abraçar o infinito

Amar para vencer a dor
E acordar os sonhos adormecidos
Amar para transpor os limites
Do corpo, da alma, do desconhecido

Ainda há neste mundo alguém que conheça
A verdadeira face do Amor?
Ainda há quem o sinta
Como paz infinita?

Ah, puro Amor!
Quem muito sabe da vida
E nada sabe de ti
Ainda dorme...



Por Aline D’Eça

domingo, 6 de setembro de 2009

Anjo perdido


Não sei o seu nome
Mas vivo a te chamar
Já dediquei tanto tempo
A te esperar em pensamento
Que meu grito mudo pode ecoar:

- Onde estás, Anjo meu?

Sem nenhum engano
Trago-te no coração
Os teus lábios tão sonhados
Tenho nos meus desenhado
Dos teus olhos busco atenção

- Onde estás, Anjo meu?

Vem fazer parte do meu mundo?
Que me mate a felicidade
Mas as horas que me forem concedidas
Ao teu lado nessa vida
Deixarão doces saudades

- Onde estás, Anjo meu?

Tenho que subir aos céus
Ensina-me a voar?
Mesmo com os pés no chão
Desvendar a imensidão
Depois de te amar...

- Onde estás, Anjo meu?

Preciso te encontrar
Não para deixar de ser um sonhador
Mas para compartilhar o que há de mais puro
Ser teu anjo também, eu te juro!
E fazer mais belo esse Amor...

- Diga-me onde te encontrar, Oh Anjo perdido!


Por Aline D’Eça
08/12/1999

Santa


Nome de índio, santo o apelido
Tudo te faz sentido
Pois tua força de guerreira
E tua bondade angelical
Que te fazem assim:
Linda!
Os teus traços são perfeitos
Tu és um Sol de calor infinito
E é nos teus braços que nós o sentimos
Estrela deusa, teu amor é o mais bonito
O teu significado encontra-se em toda a natureza
E no teu artesanato
Em tuas mãos, o cheiro de mato
Mãos que curam com toda a certeza
Árvore matriz de singela pureza
Em nós, a planta renasce e floresce
As flores, os frutos e as novas sementes
Que fazem brotar, colhendo gerações
Abraçastes a vida da ternura e da dor
Fez do sofrimento não uma pedra
Mas um elevador
Onde tua alma cresceu
E te fez rainha de todos nós
Linda!
Imagino-te ainda mais rara
Pela luz do teu sorriso e dos teus nomes
Ainda mais linda, ainda mais clara,
Vendo a felicidade realizada em tua fronte
Que é a felicidade de todos nós
Santa,
Temos que agradecer
Se o teu destino nos fez e nos quis
Agradecemos-te, Rainha!
Que só nos sabe fazer feliz.


Por Aline D’Eça
30/05/1997

Esta foi uma homenagem para uma das pessoa que mais amei nesta vida: minha vovó Santa (ou D. Iracy), em seu aniversário de 80 anos.

“És parte ainda do que me faz forte. E, pra ser honesto, só um pouquinho infeliz. Mas tudo bem, tudo bem...”

sábado, 5 de setembro de 2009

Labirinto

18/01/2001

Meu doce amor
Preciso confessar que antes de ser tua
Estarei guardada em solidão
Com o eterno sonho de te encontrar
Para dizer: te amo!

És meu Anjo, eu bem sei!
Mas, mesmo que te espantes,
Terei que seguir sozinha
Entre o silêncio do abismo
E a incerteza dos meus passos
Sem precisar de ajuda

Terei que emergir...
Sair do profundo labirinto
Que eu mesma criei em mim
Tal qual o Sol vence a escuridão
Com apenas um feixe de luz

E então minh’alma surgirá resplandecente
Vitoriosa por ter vencido a si mesma

E de que me importará
Se eu tiver que desbravar os oceanos
Ou seguir a correnteza de um rio
Se qualquer caminho
Certamente me levará a teus braços?


Por Aline D’Eça

Há 2000 anos...

24/12/2000

O Amor veio à Terra!
Nasceu um menino
De um ventre de luz
O menino Jesus

Muitos já O esperavam
Como O Cristo, O Salvador
Mas poucos O receberam
Como Lição de Amor

Ele ensinou o Caminho,
A Verdade e a Vida
Ele nos trouxe uma mensagem
Para não ser esquecida

Por muito amar,
Ele carregou uma cruz
E para os homens guiar
Há 2000 anos nasceu Jesus!

Por Aline D’Eça

Livre



Abrace-me!
Seus braços abertos
e a intensa vontade de voar
Transforme-os em asas
e voemos para qualquer lugar

Voemos juntos
Mesmo que não seja até o céu,
pois precisa ter os pés no chão
Caminhemos mesmo assim
para qualquer direção

Olhe o céu, diga para chover,
feche os olhos e você vai ver
a chuva nos molhar

Abra os olhos devagar
e qualquer coisa que sonhar
vai se tornar real

Mas antes liberte-se
de máscaras, documentos,
objetos, tanta ilusão
Para mim não há disfarces:
sua identidade é seu coração


Por Aline D’Eça29/07/2000

domingo, 24 de maio de 2009

Força propulsora

Eu não sou uma pessoa corajosa, como dizem.
A virtude da coragem está em mim apenas de forma latente.
Mas sou uma pessoa determinada a vencer.
E essa é a força que me impulsiona a derrotar os meus medos


[Aline D’Eça – 05/05/2009]

domingo, 10 de maio de 2009

Asas

17/07/1998



Horas a pensar...
Vagando entre estrelas e desejos
No limite do sonho e do real
Onde um perfume vai e volta
Trazendo o cheiro de rosas,
Substituindo o oxigênio
E transitando por todo o meu corpo

Sinto
São rosas amarelas
Elas vêm me dizer que me chega algo de bom
Talvez seja um anjo vindo me buscar
E ele vem...
Traz nos lábios vermelhos e molhados
Um sorriso sedutor
E no olhar um pedido...

Logo tenho-me carregada por braços firmes
Braços que confio,
Asas que desejo

Adentramos uma porta
Uma porta nunca antes aberta
E, agora, só a nós revelando:
Velas acesas, muitas no chão
O som de uma música ao violino
Tão baixa... quase imperceptível

O ar tem cheiro de erva doce
E tudo tem cor de jambo
Em meia luz
Não se vê detalhes em perfeição
O que torna tudo ainda mais perfeito
Perfeito como o corpo que me atrai,
Que me impulsiona e que me ama

Sinto um toque...
Talvez de uma seda fria
Talvez das mãos do meu anjo
Vejo-me, então, dentro do que amo
E já não somos dois
Princípios? Leis?
Não existem
Somos um só
Uma só explosão de êxtase
O ar, por um instante, parece acabar...
Mas ele volta,
Trazendo uma sensação de vida após morte
Como após a tempestade,
Deixamos a natureza ainda mais exuberante

E então somos únicos
Únicos habitantes de um planeta que criamos
Onde o amor é salvação
E onde o sonho já não é ilusão.


Por Aline D’Eça

Enquanto

05/03/1998

Enquanto não vens
Meus olhos passeiam perdidos
Buscando a vida e o brilho
Que eles ganham quando te têm

Enquanto te preocupas em disfarçar
Para mim e para teus amigos
Que és feliz ao saber que estarei sempre contigo
Vem o desejo em nossos corpos atiçar...

Enquanto estamos sozinhos
Diz-me baixinho as tuas intenções
Consome meus poros com deliciosas sensações
Demonstra em mim o poder da tua voz

Enquanto tenho-te inteiramente
O amor nos faz unidade
O amor nos diz a verdade

Se nos temos tão completamente
Esse amor não tem por enquanto
Apenas eternamente


Por Aline D’Eça

Sozinho

14/10/1996


Os lábios ainda doloridos
dos beijos fervilhantes
Tributos insanos à paixão

O que restou a rotina escarnece:
os corpos já não são afáveis
os dias se multiplicam
e o nosso amor já não se completa

Depois da tempestade
o que restou, tu não sabes
todo o meu amor ainda é teu
e ele arde aqui sozinho

Tu não sabes
tenho-te no sonho
e ainda durmo sozinho.

Por Aline D'Eça

terça-feira, 5 de maio de 2009

Caminhos

17/04/1997

O que parece certo
nunca é rediscutido
se o desejo é mais forte
que o sentido
Corremos riscos demais
quando seguimos juntos
Como se os suicidas soubessem
onde vão parar
Não sei até que ponto chegamos
mas fomos longe demais
No que não tinha nada a perder
perdemos quase tudo
agora estamos sem motivos para voltar
É impossível repetir o que aconteceu
Devemos acabar com tudo que nos uniu
Caímos juntos numa armadilha,
você não escutou e me acusou
Entenda como quiser
Não vou insistir no que não pode
fazer por mim
Vamos seguir nossos caminhos
nossos caminhos diferentes
E que não nos encontremos
em nossa caminhada novamente.


Por Aline D'Eça

Mesmo assim

14/11/1996

Sua diversão era ter-me daquele jeito
Presa de um envolvimento delicioso e triste
Erro amar o que não se pode conhecer
Cruéis forasteiros de corações duros
Não se encontra amor nos homens

O longo pesadelo parece desfazer
Não há afabilidade nos dias
A chama das noites se apagou
Rompem-se os suspiros
Desejos são naufragados
Mar da dor...

Mesmo assim
queria poder cegar meus olhos
pois sempre estarei assim
quando te ver.


Por Aline D'Eça

sábado, 11 de abril de 2009

Decidir



Que fique com o limite do corpo
Aquele que não quer voar
Pois o sonho quer constante esforço
E é da alma que ele irá cobrar

Que a mesa seja farta
Quando o coração é pobre
Pois quando o Amor não falta
Não há dinheiro que o compre

Que seja dado ao que fere
A benção do perdão
Para que, ferido, ele se recupere
E aprenda a estender suas mãos

Que aos impacientes não seja dado
O desgosto de fazê-los esperar
Se para eles caridade é para os “fracos”
A estes “fracos” o fardo mais leve pesará

Que aos grandes seja permitido
Obter as grandezas da Terra
Eles não conhecem o Amor, são pequeninos
Diante da eternidade que os espera

Que não seja dada a dor e a doença
Àqueles que não sabem chorar
Pois a consolação é dada aos que têm fé e crença
E só os que sofrem sabem acreditar

Muitos escolhem caminhos fáceis, portas largas
Poucos escolhem caminhos difíceis, portas estreitas
A vida torna-se amarga
Quando a decisão é incorreta.


Por Aline D’Eça
22/04/1999

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Fascinação

Março de 1998

Ah! Desde que te vi, vi-me presa
Teu olhar, fascínio, causou-me febre
Ah! Desde que te vi, tive a certeza
De ser escrava do que tu queres

Como não te desejar?
Se do teu nome tenho prazer
Se quando a teus encantos me entregar
Sei... no mesmo tempo hei de gozar e de morrer

Vejo minhas mãos mergulhadas em teus cabelos
Vejo minhas mãos decorando teus contornos
Não se há palavras, há apelos
E o desejo de sentir teu corpo morno

Este corpo que se tornou meu templo
Tem por dom uma perfeita simetria
É tão fascinante que não olho, contemplo...
Puro delírio, ilusão ou fantasia

Num doce sonho mora esta ilusão
E desse sonho é que encontro vida
No teu olhar vejo paixão
E nos teus braços vejo-me perdida...


Por Aline D'Eça

Pacto

01/09/1998

És o que me faz viver
Estar contigo é desfrutar
De delícias
Então não me negue a vida
Nem o desfrute
De tuas malícias
Se sou tua
Então aceita o que é teu
Receba este corpo que é teu
E que apenas quer o teu corpo
Doa-me este sangue que é meu
Deixa-me sentir o gosto
Do que já deliciei
Da saliva, do suor, do corpo que amei
E...
Na sede
Embebede-me do teu veneno
Na fartura
Alimente-me do que sempre estou querendo
Na tristeza
Beba das minhas lágrimas
Na felicidade
Teu sorriso faz meu sonho, minha alma
Na fome
Quero todo o teu corpo
Na saúde
Quero todo teu esforço
Na doença
És minha cura
Na raiva
Quero toda tua fúria
No amor
Quero-te despido
E na morte
Minha alma está contigo.

Por Aline D'Eça

domingo, 5 de abril de 2009

Só para te enlouquecer



LevantaE o sol ainda não apareceuEspantaTudo que não esqueceuNão poderia apagar um amor assim
CriançaO medo quando escureceuLembrançaO abraço que te aqueceuSe então só saberia dizer sim
TristezaMentiu toda essa magiaEsqueçaQue só foi feliz naquele diaJá não há nada para te aquecer
Não acreditasteNesta brincadeira sem sentidoE então chorastePois não era teu aquele risoNão foi nada divertido para ti
Quando um coração só sabe amarÉ difícil acreditarImpossível entender
Quão estranho era aquele olharQue um dia se fez brilharSó para te enlouquecer
Quanta indiferença e quanto felNa boca que te aqueceuFica com a lembrança do beijo infielE dos olhos que não são mais teus.

Por Aline D'Eça

27/04/1999

segunda-feira, 30 de março de 2009

A espera




10/06/2002


Eu te esperei por te amar
E não me entreguei a um encanto qualquer
Quis fazer da solidão um santuário
Para proteger a mim e ao meu sentimento
No entanto, sem separar-me de ti nem por um momento
Em cada pensamento enderecei-lhe uma prece

Eu te esperei acreditando no tempo
Longe da tua estrada, mas confiando nos teus passos
Sei que não pude ver as pedras do teu caminho,
Nem te proteger de todos os tropeços,
Mas cada ferimento teu
Doeu demais em mim.

Eu te esperei sem perceber que a vida passava,
Que as datas se repetiam,
Que os fatos se acumulavam
E que mudanças aconteciam...

Eu te esperei tendo a certeza de que chegaria
Trazendo a felicidade e a paz de que necessito

Eu te esperei...
Com toda a esperança que o amor nos faz ter, eu te esperei
Mas não esperava que te encontraria
Para dizer-te neste dia
Apenas um “adeus”!


Por Aline D’Eça

domingo, 29 de março de 2009

Antes de Dormir


Eu não queria ficar esperando
Ver o sol nascer
Eu preferia que o sol não partisse
Sem você aqui
Para perguntar como foi meu dia
E me fazer dormir
Entre o calor de um beijo e outro
Entre a boca, o ouvido e o pescoço
Ter você para mim
Ah!
Eu já lhe disse tantas coisas
Só com um olhar
Acostumei-me com o seu perfume
Nos meus lençóis
E te amei através de um simples toque
Ou da sua voz
Tendo prazer sem nenhum esforço
Querendo sempre mais o seu corpo
Como se fosse rio
E eu sua foz.

Por Aline D’Eça
06/03/2003 

Destroços

18/02/1997

Ao trágico romance ainda ligada
Omito que não fui amada
Digo que o nosso caso
Foi fruto do acaso
A destroços se resumiu
E sumiu
Cruel destino
Dolosa verdade
Sua indiferença encontra-se impune
É que no amor não prevalece a justiça
Tudo se reduz a crime passional
Da minha prisão só restam seqüelas e mágoas
Meu desejo anda contido
Não quero tatos nem contatos
Estou em carnal purificação
É que sua insegurança me contaminou
Preciso de atenção
Seu egoísmo me fez solidão
Preciso de lucidez
Sua insensatez a desfez
Já não preciso que me aqueça
Me esqueça.



Por Aline D’Eça

Opostas estações

15/02/1997

Quando estou aqui
Não dá para rir
A solidão me faz mergulhar
Em mim
Tenho medo do meu medo
Perco-me no meu mistério
Respiro meu vazio
Sou Inverno
É difícil enfrentar o que há
Fora de mim
Tudo que tenho é o Nada...
Mas vou sair
Aonde ir? Não sei
Vou andar
Quero fugir dessas mesmas emoções
Vai ser duro o meu caminhar
Mas vou caminhar
Vou correr
Procurar a felicidade reservada para mim
Se sentires saudades minhas
Não faça teus olhos choverem
Nem mesmo teu corpo invernar
Procure o calor mais gostoso
E serei teu Verão.

Por Aline D’Eça

sábado, 28 de março de 2009

Pura sintonia

15/05/1997

Porque é tão difícil dizer eu te amo?
Para quê tanto orgulho?
Se já perdemos a noção de tudo

Se nos unimos num momento mágico
Nossos corpos já se entenderam tanto
Num inteiro, profundo abraço...

Acho
Que as palavras que nós não dissemos
E as atitudes que andamos tendo
São o maior motivo para essa aflição

Não!
Não quero ser um caso mal resolvido
Guardar um amor que não tem sentido
Voltar para ti sem haver perdão

Quero
Estar contigo em pura sintonia
Viver em breve tempo a alegria
E querer viver cada vez mais

Faz
Tanto tempo que eu não te vejo
E ainda sentimos tanto desejo
Porque agora é tão difícil nos amar?

Olha
Se ainda pensa em mim
Saiba que muito temos a resolver
É que eu ainda quero você.



Por Aline D'Eça

O que restou de nós

22/02/1997

O que me aconteceu?
É tão difícil sussurrar seu nome
Tudo de ti
Acho que esqueci
E o esquecimento mora longe demais
Algumas vezes você me amou
Mas jamais me aceitou
Não sei porque
Eu ficava, você partia
Eu esperava, você fugia
Eu chorava, você sorria
É tão difícil entender...
Não pude esquecer
Seu beijo prolongado de fervor
Seus olhos perdidos naquelas horas de amor...
É tão confuso...
Não sei em que acreditar
Quando estávamos distantes
Ficava a lembrança dos instantes
Que a paixão nos fez passar
Do luar sinto saudades
E do nosso lugar tão lindo de amar
Hoje aqui nesta cidade
Vejo tudo indo e vindo
Fora da claridade da lua
É tão triste...
Nunca mais houve alegria
Não é simples ser feliz nestes dias.


Por Aline D'Eça

terça-feira, 24 de março de 2009

Pacto II

31/03/2003


Ainda tenho
o teu cheiro
a tua voz
o gosto de um beijo
roubado
a tua boca
a tua pele
o teu corpo inteiro
guardado
dentro de um copo
os meus olhos
e meus lábios
molhados
submersos
no sabor
de sangue:
o que restou
de um pacto.

Por Aline D’Eça

Senti

09/1995

As palavras que não disse,
que não transmiti,
o sentimento interior
estão guardados em meu íntimo:
As palavras, acumuladas
O sentimento, ileso

A ilusão deixou-me diante da perda
antes que pudesse expressar meu sentimento
Estava decidida, aspirava muito
quando, de repente, encontrei-me com a realidade:
você saiu sem nem mesmo eu te dizer
o que sinto por você

Não virá nunca o que vi
diante de mim
no espelho...

Olhe para mim!
Perdi o controle das minhas ações
Já nem sei viver
Não sei sem você
E os sonhos tão intensos
que vi apagados?
E o sentimento?
Ninguém nunca o sentirá
da maneira tão intensa
quanto o senti!

Olhe para mim!
Perdi as rédeas de minhas emoções
te perdi antes mesmo de te ter
e de te revelar:
te amo.


Por Aline D’Eça


domingo, 22 de março de 2009

O espelho

16/03/2009

Não sei ainda qual a minha tarefa neste mundo. Escrever, talvez. Porque esta é uma das minhas maiores tendências. As palavras, para mim, sempre funcionaram como um espelho. Escrever era uma forma de me enxergar. Mas, a certa altura da minha vida, decidi fugir e tentar me autodescobrir de outra forma, adormecendo a poesia e despertando para um lado mais prático de me expressar. Embora nesta praticidade eu não tivesse além de mera espectadora, reportando fatos externos a mim.
É que à poesia eu me subjugava, como se mergulhasse numa caixa preta para lá descobrir meus sentimentos... Não tinha como escapar. Bastava um papel e uma caneta e pronto: iniciava-se a minha viagem para o mundo interior. Um mundo sensível, mas, ao mesmo tempo, avassalador... Cada palavra escrita era como uma peça de roupa a menos. Assim, ao final de cada verso, via-me nua por completo. Por isso o segredo, os papéis amarelados, o cofre, o esconderijo... Não estava preparada para exibir tal nudez. Pois no final era a mim mesma que não tinha coragem de mostrar-me nua. Mas hoje não. Não quero mais a covarde sensação diante do que para mim representa um espelho

Por Aline D’Eça

quinta-feira, 19 de março de 2009

Ímpar

29/03/1999

Vivo a morrer de amor
Sempre a me torturar
Este que falam ser “força maior”
Sempre me faz fraquejar

Faz-me pobre, o coração, no que sinto
Sou um mendigo a suplicar
Se me faltam a razão e o sentido
O que resta é me humilhar

Possuo um eterno amor servil
De quem sou escravo, sou leal
Por quem me infligiu
Tenho um amor irreal

Ando de joelhos
Curvo-me aos pés do domador
Deixo-me arder em desejos
- Tudo o que quiseres, meu amor!

Entrego tudo o que cobra
O resto comigo ficou
Contento-me com as sobras
Do que me faltou

Porque sou poeta
Tenho meia porta aberta à loucura
E o que me desconcerta
Já não tem chances de cura

De forma assim tão íntima
O que escrevo, olhos não poderão ver
O que me faz par e me faz ímpar
Só o coração pode entender

Eu sei que fere e dói
Mas prefiro ficar e persistir
Sei que este sentimento é feroz
Ele pode me matar e eu resistir!



Por Aline D’Eça

Ilusão ótica



É dia, estou acordada
pareço dormir
Sonhado de olhos abertos
você está aqui
Não posso fechar os olhos
pois vou descobrir
que a ilusão ótica
não me fará te sentir
De olhos fechados
restam-me quatro sentidos
e o não sentir:
seu cheiro
seu gosto
seu toque
sua voz
Ah, esse amor!
Faz-me cego com os olhos abertos
Com eles fechados é que posso ver!



Por Aline D’Eça
Em 15/02/1997

segunda-feira, 16 de março de 2009

Tocar, sentir, reagir...

A indiferença me apavora. Não sei conviver com o fato de não provocar sentimentos. O sentido para mim é tocar. As coisas, assim como as pessoas, existem para ser tocadas. E não se trata, aqui, de toque físico, pois pele é algo muito superficial e evasivo. Tocar é algo mais abrangente... É o ato de despertar algo em cada uma das pessoas, das coisas, dos seres que passam, para fazê-las sentir e para senti-las. Esse é o mecanismo. Até quando se caminha sozinho contra o vento, algo é despertado, no vento e em nós. E a excelência é talvez fazer com que esse algo despertado seja bom. Essa é a minha meta, embora na maioria das vezes pareça que todo o esforço não funciona. Ou se funciona, eu não vejo, desconheço... E daí nasce a minha necessidade de ouvir, de ver, de entender, que é constante e ilimitada. Para cada ação, uma reação; e desta equação o resultado é o entendimento. Sem isso, fica o pavor. Porque sentir o que as pessoas e as coisas sentem à sua provocação é algo inalcançável. E o inalcançável me fascina.

Por Aline D'Eça16/03/2009

domingo, 15 de março de 2009

Só para lembrar


















Se é para pensar que não sou seu,
Seria melhor esquecer
Que já fui estrela cadente
Só para te agradar

Realizei suas fantasias
Esqueci que tantas vezes me fiz esquecer
Promessas suas
Dívidas a flutuar
Mas se você quiser
Não me lembro do que mais venero
Mas não me lembrarei de esquecer
A Lua em seus olhos,
O Sol em seus braços e abraços

Por favor, meu amor,
Não me faça eternizar as dores
Guardar a escuridão em diamantes.


Por Aline D'Eça 
10/09/1996

Boneca de louça



21/04/2004

Seis e meia. Ele sempre chega quando o relógio marca este horário. Trinta minutos depois da Ave Maria. Acabo de rezar o terço, desligo o rádio, passo o café, ponho a mesa para o jantar e vou para a janela. Escondida pela cortina, observo ele bater bruscamente a porta do carro e entrar mal-humorado em casa. Nem toma banho, senta na poltrona, liga a televisão e põe os pés com as botinas sujas sobre a mesinha da sala. Sua esposa surge apressada após ouvir os gritos. Nunca está arrumada. Não precisa, quase nunca sai de casa, nem recebe visitas. Ela sempre usa bobes nos cabelos e vestidos velhos. Traz, com grande afã, um copo e uma cerveja. Por que sempre traz o copo? Ele nunca toma de outro jeito: põe a boca no gargalo e bebe.

Passada uma hora, ele levanta e se dirige à sala de jantar. Parece esfomeado. Não sei ao certo o que acontece, não consigo ver pela janela, mas depois de alguns instantes a mulher começa a chorar. Ele bate nela e manda-a chorar baixinho, caso contrário baterá mais. Um selvagem! Homem forte, barba por fazer, está sempre suado, cheirando a óleo e a cerveja. Um covarde! E sua mulher tão frágil e burra. Sim, burra... Como pode continuar casada com um animal daquele?


Aquela pobre mulher apanha muito. Todos os vizinhos sabem, mas ninguém toma uma atitude! Isso me indigna. Eu, porém, nada faço... Pego o telefone às vezes, mas não consigo chamar a polícia... Pobre coitada, a encontrarei na missa de domingo. Calada, valendo-se de um véu sobre o rosto para esconder as marcas roxas, terá pressa. Como de costume, pegará suas três crianças e voltará para casa, sem poder conversar.


Meu marido chegou. Já são oito horas. O Osvaldo sempre me traz flores e dá um beijo em minha testa. Minha pequena, como foi seu dia? Sempre gentil e delicado comigo. Tenho sorte em tê-lo como companheiro. Meu marido me ama, seria incapaz de erguer a voz para mim, quanto mais me bater. Jantamos e depois de ajudar-me com a louça, ele me chama para dormir. O Osvaldo trabalha muito, está sempre estafado, dorme rapidamente. Sou feliz com ele. Fazemos amor uma vez por semana, aos sábados. Aos domingos, depois da missa, almoçamos na casa de sua mãe.


Toca a Ave Maria e em meia hora o vizinho chega. Tudo se repete. Já tenho cronometrado na minha cabeça. A mulher apanhando... Ele parece ter as mãos pesadas. Bate sem piedade no rosto da pobrezinha. Troglodita! Uma mulher tão frágil, tão franzina... Ela tem marcas roxas no rosto e pelo corpo. Osvaldo nunca me bateria... Espio pela janela. Depois de algum tempo o silêncio impera na casa ao lado. Meu marido chega. É sempre carinhoso e gentil. Trata a mim como uma princesa, sua bonequinha de louça... Nunca me bateria.


Manhã de quarta-feira e volto do mercado. Surpreendo-me ao ver aquele cafajeste cuidando do jardim. Como pode ser tão delicado com as flores e tão estúpido com a mulher? Calafrios. Tive medo do seu olhar. Agachado no jardim, ele percorreu meu corpo de baixo a cima com os olhos... Senti-me despir... Bom dia madame. Gentileza não combina com ele. Porém, ajudou-me com as compras. Pude reparar nas suas mãos, tão grandes e grosseiras. Que estrago poderia fazer no rosto de uma mulher... Calafrios. Tive medo, mas não pude rejeitar a ajuda. Deixou as sacolas na varanda, sorriu e voltou para o seu trabalho. A delicadeza realmente não lhe combinava. Um homem como aquele, rude, voraz... Com aquelas mãos... Ai... Se ele me batesse forte na cara, estaria perdida. Bem que eu iria gostar. E gozar.



Por Aline D'Eça


* Uma homenagem ao polêmico e fantástico Nelson Rodrigues

sexta-feira, 13 de março de 2009

Canto Solo

20/03/2003

A Paz.
Luzes em Bagdá
brilharam no céu
ao alvorecer.
Vozes do mundo inteiro
cruzaram terras e oceanos
para calarem-se no dia vinte.
Passos sincronizados,
ao canto solo de um pássaro
que prefere o ninho,
dançam em terras mesopotâmias
Acorda o Tigre e o Eufrates
a voz de um “deus”:

“Abro as portas de tua casa
Observo-te trancado no meu quarto
Acredite:
Eu sei o que é melhor para ti!
Minimiza agora esta tua (in)segurança...”
...

O mal faz bem
para quem não tem
a Paz.



Por Aline D’Eça

*Zero horas do dia 20 de março de 2003
Os EUA atacam Bagdá
E este foi o meu pequeno protesto contra a covardia de G.W. Bush

A Rosa




06/11/1999

Sou uma Rosa solitária
A única do galho e do jardim
Moro em um jardim distante
Onde não há ninguém
Que possa cuidar de mim.

Sou uma Rosa indefesa e rara
Um dia, quando ainda era botão,
Percebi crescer em mim
Ao invés de espinhos, um coração.

Certa vez um lindo anjo visitou-me
Como num encanto, em um final de tarde
Admirou-me, beijou-me e partiu
Sem perceber que me ensinara
O que é a Saudade.

Outras tardes vieram,
Mas não voltei a vê-lo
Lágrimas, noite e dia chorei
Com medo de perdê-lo.

Veio a noite e a Lua falou
Que em todo mundo, nunca vira
Uma rosa que se apaixonou.

O Sol um dia disse-me
Que ele mora pertinho do mar
Quis poder rasgar o chão,
Só para poder o encontrar

Mas, como sou apenas uma Rosa,
Pedi a um colibri
Para ir sempre até o meu anjo
E roubar os seus beijos para mim.




Por Aline D'Eça

quinta-feira, 12 de março de 2009

Anjo meu



 Onde pousas, Anjo Meu
E descansa tuas asas?
É na Terra ou no céu
Onde tens tua morada?
Se és sonho, eu não sei
Mas comparo tua chegada
À Lua no meio-dia,
Ao Sol na madrugada.
Qual estrela tem teu nome,
Meu Anjo querido?
Na esperança de te encontrar,
O brilho dos teus olhos eu procuro
Em cada olhar.
Enfeitas de flores o meu horizonte
Do amor és tudo o que quero
Se és sonho, é o mais lindo que existe
Anjo Meu,
Olho o mar e te espero...



Por Aline D’Eça
01/11/2000

quarta-feira, 11 de março de 2009

Nenhuma prática

24/02/2000

O meu pai quer que eu sirva
à Aeronáutica
Minha mãe quer que eu faça
Artes Plásticas
O meu tio me matriculou numa escola
de Informática
Minha tia me arranjou um professor
de Matemática
Meu irmão diz que eu sou
uma Problemática
E eu só quero ser poeta mas detesto
a Gramática!


Por Aline D'Eça

Não te quero


Não direi que te amo
Nem sei se é amor o que sinto
Mas se eu descobrir que te amo
O amor que carrego eu minto!

Não direi que te quero
Não! Não posso querer-te!
Nem esperar de ti o que espero
Nem sonhar que possa render-te!

Não desejo te encontrar
Eu preciso me esconder
Tenho medo do teu olhar
Os meus olhos não podem te ver!

Não quero que ligues para mim
Não te darei o meu telefone
A tua voz, eu não quero ouvir
Eu até esqueci o teu nome!

Não necessito do teu amor
Nunca mais vou me iludir
Não que eu tenha medo da dor
Mas contigo aprendi a mentir!



Por Aline D'Eça
18/09/2001

Folhas Caídas

06/03/2003

Sem ação
Sem palavras
Os papéis em branco espalhados pela mesa
Fonte seca
Céu sem estrelas
Vida que parou na beira da estrada
Parou porque a rosa murchou
Um amor acabou
Acabaram-se as lágrimas
Folhas caídas
Noites infinitas
Nesta longa espera
O mundo dá voltas,
Mas desta vez não voltou
Ainda a Primavera.

Por Aline D'Eça

Normal

18/04/2004

Apenas um passo. Um passo à frente e estaria feito. O pé não encontraria o chão e a gravidade se encarregaria de puxar o resto. Onze andares. Três metros e meio cada um. Aceleração da gravidade nove vírgula oito metros por segundo ao quadrado. Em quanto tempo chegaria ao chão? A equação de Torricelli resolveria, se a lembrasse. Quem mandou matar as aulas de física?! Deixa pra lá, a calculadora está muito longe mesmo. É só fechar os olhos e ir. Simples como tapar a respiração e cair na piscina. Já fiz isso tantas vezes, porque não consigo agora? Acho que nunca pulei na piscina de roupa, talvez seja isso. Não, não vou tirar a roupa. Imagino a foto no jornal, minhas celulites em manchete nacional. Nem pensar!... Descobri! É só não pensar. Vou tentar... ...................................... “Ai que frio”...................................... Não dá certo. O que será que vai sair no jornal? Eu queria estar aqui amanhã só pra ver os repórteres enchendo todo mundo de perguntas. Por que ela fez isso? Ninguém ia saber. Quem choraria? O que iam dizer? Ela era uma pessoa normal, assistia as aulas todos os dias, comia hambúrguer com batata frita, gostava de novela, tinha um ex-namorado. Uma pessoa normal... Era tudo que não gostaria de ser, por isso estou aqui, para ser diferente. Mas, pensando bem, pular de um prédio de onze andares é diferente? Acho que não vou ser a primeira nem a última pessoa a fazer isso. Que anta! Nada original. Um suicídio normal. Talvez nem desse manchete. Tenho que pensar em algo melhor... É... vou deixar para amanhã... Nossa! Como a lua está linda! Nem tinha reparado que ela estava nascendo. A visão daqui é tão melhor... Ops! O que é isto? Ai!!!!!! Um morcego no meu vestido! Sai morcego! Saaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaiiiiii..............
- Você a conhecia? Sabe o motivo que a levou a cometer suicídio?
- Não sei. Ela era uma pessoa normal...


Por Aline D'Eça

terça-feira, 10 de março de 2009

Imortal


Que pode uma jovem mortal
Diante do amor?
Reconhece na criatura amada
Um deus que adora e contempla
Tal como fez Psique
Ao ver pela primeira vez a face de seu marido
O mais belo e encantador dos deuses
A personificação do amor: Cupido

Que pode uma jovem mortal
Fazer com o que resta de si
Quando o seu deus, sua paixão,
Abre as brancas asas e voa sem destino
Deixando-a estendida no chão?

Que pode uma jovem mortal
Senão aquiescer aos caprichos da Vênus
Enfrentar infortúnios e sofrimentos
Para ter devolta o que outrora perdera
Causando-lhe imensos tormentos?

Que pode uma jovem mortal
Querer depois de ser acordada
De um longo sono cruel
Pelo mais doce beijo
Dos amados lábios de mel?

Que mais pode uma jovem mortal
Em suas núpcias desejar
Dos deuses em assembléia celestial
A não ser de que pelo amor
Também seja tornada imortal?



Por Aline D'Eça
Em 25/04/2003

Um bom coração

21/02/1997

É triste olhar para o futuro
e não perceber o que está guardado para nós
Mas como saber?
É tudo tão estranho
As boas coisas a vida nos tira
Servindo nossos erros em bandejas
fica difícil lembrar nossas vitórias
realidade ou história?


Os contos já não encantam
Branca de Neve no caixão apodrece
É que o Príncipe se entorpece
E os Anões ocupam-se com a corrupção
Os bons valores são esquecidos
nas doses de conhaque, nas drogas, no sexo e na televisão


Fé é riqueza para poucos
o deus de hoje é o Dinheiro
É muita gente com muito pouco
e gente com muito mais do que precisa

Os pobres, por baixo,
colocam os ricos lá em cima
Os ricos, de cima, pisam em quem está por baixo
Eles não querem saber de ajudar!


Só vejo promessas...
Q
uero fugir depressa
e me esconder em um bom coração
Meu pai, minha mãe,
minha irmã, meu irmão
Um bom coração
Meu Deus, meu Amor
Aquele amigão
Ou até mesmo
no meu coração.

Por Aline D'Eça

Ficar

18/03/1995

Se eu pudesse ficar...
À noite largaria o mundo,
aprenderia de tudo,
a ter você a me preencher
Logo mais prenderia-me aos seus braços
e neste instante enxergaria
que já não vivo sem seus olhos

Ficar e ficar, noite e dia, bastaria

Se você ouve, eu não posso chamar
Se você correr, poderá cair
Mas se você gritar, só ouvirei você

Se eu pudesse ficar...
A noite buscaria
a chama que acenderia
para nunca mais apagar
E quando aos teus lábios me entregasse,
só saberia ficar
com o espírito que encontrei

Se eu pudesse ficar...
Na manhã, tudo quieto
e ninguém mais por perto
só batidas e suspiros
só dois corpos descansando aquecidos
Vítimas e os vestígios do seu crime:

O cheiro de amor pairando no ar
e a cicatriz que não saiu
e nem sairá.

Por Aline D'Eça


*Tinha apenas 14 anos, mas já com "apenas duas mãos e o sentimento mundo..."

domingo, 8 de março de 2009

Caixa Preta

14/04/2004

Um PACTO. Ele foi desenhado assim em meu corpo, com letras maiúsculas. Ainda sinto minha pele sendo rasgada milimetricamente por uma lâmina abrasante. Ainda vejo a fumaça subir. Com fogo. Cheiro de carne queimando.

Um corpo novo riscado sobre meu corpo. Eu o desejei. Eu o tive. Meu corpo reinventado exatamente como eu cobiçava. Etapa a etapa. Aqueles olhos castanhos se sobrepuseram aos negros dos meus. Ah, aqueles olhos tinham mel. Quis prová-los com a língua. Eram exatamente doces. Desde então meu olhar nunca mais foi meu. E aqueles lábios? Sim, eles também reinventaram os meus. Eram maduros tais quais frutas vermelhas. Deles destilavam um néctar celestial, do qual à medida que eu me servia sentia-me narcotizar. Lentamente fui percebendo um desenho de outra boca substituindo a minha. Com fogo. Cheiro de carne queimando.

Diante do espelho via outro rosto. Aquele rosto não era meu, mas já era eu. Cada dia uma nova parte de meu corpo era remodelada. Metamorfose. Um outro ser mergulhava em mim. Cabeça, pescoço, peito, barriga, sexo... Sim, até o sexo foi reinventado. Com ele eu ganhei e me perdi. Já nem sei ao certo se fui eu que me penetrei ou se penetraram em mim. Com fogo. Cheiro de carne queimando.

Um outro ser, um outro corpo sendo definitivamente desenhado em mim. Tatuagem. Meu corpo e novos traços. Adquiri novas pernas e pés, mas perdi o comando sobre eles. Aonde me levavam? Ao céu? Ao inferno? “Sem escolhas, lembra?”. Nada era meu. Tudo era eu. Novos sentidos e não sentidos. O que ganhei? O que perdi? Um corpo novo tatuado sobre o meu. Com fogo. Cheiro de carne queimando. Este corpo, no entanto, era oco. E comecei a sentir o vazio mergulhar em mim. Sentia? Não! Eu não sentia! “Sem sentidos, lembra?”. Os pés e as pernas já não sustentavam o novo corpo. Do sexo foi extinta toda sensibilidade. Um vento frio soprou na barriga. No peito, uma caixa preta. Minha alma era arrancada com força. Ela não cabia neste novo corpo. Senti-me afogar em mim. Debater-me sobre mim. Desesperadamente. Respirar... Respir...ar... Res...pi...rar... Res... Um último e longo suspiro. Pacto cumprido.

“Pertencer ao outro eternamente. Com fogo. Cheiro de carne queimando”.


Por Aline D’Eça
Em 14/04/2004

INSTRUÇÕES DE LEITURA

Devassando o que era inviolável


Ela era inviolável, mas foi aberta. Por quê? Não sei. Mas era preciso.

Até mesmo Pandora sucumbiu e abriu a misteriosa caixa...
Em meio a tantos males, ainda restou a Esperança, única forma do homem não sucumbir às dores desta vida.
Tudo aqui era secreto, mas decidi devassar a misteriosa caixa e abrir os meus segredos.
Poesias, contos, frases, desabafos... não preciso mais guardar tudo isso. É preciso livrar-se do que é velho e abrir espaço para coisas novas.
Aqui estou, disposta a fazer isso.
Peço apenas que observem as datas de cada um destes textos. Eles diziam respeito a fases, muitas das quais já passaram...
Ah... e quanto às cópias, aviso aos navegantes que tudo aqui está devidamente registrado.

Boa leitura.