quarta-feira, 11 de março de 2009

Normal

18/04/2004

Apenas um passo. Um passo à frente e estaria feito. O pé não encontraria o chão e a gravidade se encarregaria de puxar o resto. Onze andares. Três metros e meio cada um. Aceleração da gravidade nove vírgula oito metros por segundo ao quadrado. Em quanto tempo chegaria ao chão? A equação de Torricelli resolveria, se a lembrasse. Quem mandou matar as aulas de física?! Deixa pra lá, a calculadora está muito longe mesmo. É só fechar os olhos e ir. Simples como tapar a respiração e cair na piscina. Já fiz isso tantas vezes, porque não consigo agora? Acho que nunca pulei na piscina de roupa, talvez seja isso. Não, não vou tirar a roupa. Imagino a foto no jornal, minhas celulites em manchete nacional. Nem pensar!... Descobri! É só não pensar. Vou tentar... ...................................... “Ai que frio”...................................... Não dá certo. O que será que vai sair no jornal? Eu queria estar aqui amanhã só pra ver os repórteres enchendo todo mundo de perguntas. Por que ela fez isso? Ninguém ia saber. Quem choraria? O que iam dizer? Ela era uma pessoa normal, assistia as aulas todos os dias, comia hambúrguer com batata frita, gostava de novela, tinha um ex-namorado. Uma pessoa normal... Era tudo que não gostaria de ser, por isso estou aqui, para ser diferente. Mas, pensando bem, pular de um prédio de onze andares é diferente? Acho que não vou ser a primeira nem a última pessoa a fazer isso. Que anta! Nada original. Um suicídio normal. Talvez nem desse manchete. Tenho que pensar em algo melhor... É... vou deixar para amanhã... Nossa! Como a lua está linda! Nem tinha reparado que ela estava nascendo. A visão daqui é tão melhor... Ops! O que é isto? Ai!!!!!! Um morcego no meu vestido! Sai morcego! Saaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaiiiiii..............
- Você a conhecia? Sabe o motivo que a levou a cometer suicídio?
- Não sei. Ela era uma pessoa normal...


Por Aline D'Eça

Nenhum comentário:

Postar um comentário