quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

No meio do caminho tinha um homem

16/09/2005


Diante de tantos passos apressados, sem nenhuma proteção sobre a calçada de pedras portuguesas, dormia um homem. Era sujo e magro. Apresentava alguns cabelos brancos e rugas denunciando a velhice do corpo. Talvez estivesse bêbado, mas isso pouco importou para uma senhora que passava pelo local às 7 horas da manhã, se dirigindo para uma padaria no bairro Nazaré, onde reside na capital baiana. Dona Maura, uma senhora de quase 80 anos, vestimentas simples, porém bem arrumada, parou diante daquele ser adormecido no chão, estendendo para ele um olhar triste e piedoso. Não conseguiu ter medo daquela criatura desafortunada. Ao contrário daqueles que só reparavam naquele homem infeliz a tempo de desviar dele como se desviasse de uma pedra ou de um buraco no caminho, Dona Maura esqueceu um pouco de si para pensar um pouco nele. Seus pensamentos, talvez, fossem uma análise sobre a trajetória de vida daquele senhor adormecido no chão, se ele possuía família ou sobre o abandono do Estado. Talvez apenas fizesse uma prece. Ninguém sabe, ninguém perguntou. Mas a partir do momento em que Dona Maura parou diante daquele ser, os transeuntes apressados deixaram de enxergá-lo como uma pedra para enxergá-lo como um homem, um infeliz, mas um homem.

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