Não sei ainda qual a minha tarefa neste mundo. Escrever, talvez. Porque esta é uma das minhas maiores tendências. As palavras, para mim, sempre funcionaram como um espelho. Escrever era uma forma de me enxergar. Mas, a certa altura da minha vida, decidi fugir e tentar me autodescobrir de outra forma, adormecendo a poesia e despertando para um lado mais prático de me expressar. Embora nesta praticidade eu não tivesse além de mera espectadora, reportando fatos externos a mim.
É que à poesia eu me subjugava, como se mergulhasse numa caixa preta para lá descobrir meus sentimentos... Não tinha como escapar. Bastava um papel e uma caneta e pronto: iniciava-se a minha viagem para o mundo interior. Um mundo sensível, mas, ao mesmo tempo, avassalador... Cada palavra escrita era como uma peça de roupa a menos. Assim, ao final de cada verso, via-me nua por completo. Por isso o segredo, os papéis amarelados, o cofre, o esconderijo... Não estava preparada para exibir tal nudez. Pois no final era a mim mesma que não tinha coragem de mostrar-me nua. Mas hoje não. Não quero mais a covarde sensação diante do que para mim representa um espelho.
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